segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Travessia de Verão

Tal como o Capote por algumas semanas troco a época das chuvas em Bissau pelo sol de Portugal, cores de Lisboa, praias dos arredores e outros portos.

Quando regressar escrevo mais e deixo fotografias. Entretanto ficam imagens da semana passada. São do estado em que ficam as ruas à volta de minha casa...






Já não estou habituado a isto de vir à cidade e encontrar prateleiras nos supermercados cheias de gelados...

domingo, 9 de agosto de 2009

Intervalo em terra seca

Algum tempo atrás, em intervalo de eleições e enquanto a época das chuvas na Guiné-Bissau não permite grandes deslocações, deu para ir uns dias aqui ao lado.

Primeiro Santiago depois Fogo. Duas ilhas e as diferenças são muitas.

A Praia soube melhor à terceira. Uns dias de sol e mergulhos com água transparente e muito peixe. Voltar a encontrar alguns amigos e conhecidos. Alguma cultura, maracujá amarelo grande como em João Vieira, leitura em dia e comer gelados no Árctica. Faltou o Prof. ou alguém dizer que ele também estava lá.

Desta vez consegui ir ao Tarrafal. É preciso cortar a ilha a meio, passar pela Assomada e outros lugares que mostram bem a pobreza interior da ilha. Não fui simplesmente pelo passeio mas porque queria visitar o campo de concentração ou campo da morte lenta como também era conhecido. Um pouco abandonado mas a história está lá. A exposição ajuda a contar. Foram 37 os prisioneiros políticos que morreram neste campo; os seus corpos só depois do 25 de Abril regressaram a Portugal.






Agora no Fogo. Uma ilha vulcão com 40 mil habitantes e que tem São Filipe como capital. Uma pequena simpática e íngreme cidade. No fundo um conjunto de casas amontoadas num penhasco sobre uma praia de areia muito preta e mar revolto. Os contrastes das cores vivas dos edifícios e dos azulejos terracota a decorar os sobrados dão alegria. A traça colonial ainda é forte. Vida mais calma e parece haver tempo para tudo. Na Tortuga comi os melhores bifes de atum cozinhados de várias maneiras pelo Roberto. Aqui não há infelizmente.

O vulcão é imponente. Tudo à volta é escuro e pedregoso. No caminho muita lava das várias erupções. Continua activo e é monitorizado diariamente. Começamos a subir na Chã da Caldeiras (a pequena povoação no sopé) até ao topo dos 2829 metros e foram quatro horas de pedra, areia e caminhos estreitos. Isolamento geral e sem turistas. Valeu a pena o esforço. Para recuperar um excelente peixe-serra. No fim visita à cooperativa vinícola onde se faz o conhecido vinho da ilha.

A razão de tantos cabo-verdianos loiros no Fogo vem do séc. XIX e tem um nome: Duque de Montrond.












E a nota histórica: “A Colónia Penal do Tarrafal, situada no lugar de Chão Bom do concelho do Tarrafal, na Ilha de Santiago, foi criada pelo Governo português do Estado Novo ao abrigo do Decreto-Lei n.º 26 539, de 23 de Abril de 1936. O Estado Novo, sob a capa da reorganização dos estabelecimentos prisionais, ao criar este campo pretende atingir dois objectivos ligados entre si: afastar da metrópole presos problemáticos, e, através das deliberadas más condições de encarceramento, enviar um sinal de que a repressão dos contestatários será levada ao extremo. Esta visão está claramente definida nos primeiros parágrafos do Decreto-Lei n.º 26 539, ao afirmar que serve para receber os presos políticos e sociais, sobre quem recai o dever de cumprir o desterro, aqueles que internados em outros estabelecimentos prisionais se mostram refractários à disciplina e ainda os elementos perniciosos para outros reclusos. Este diploma abrange também os condenados a pena maior por crimes praticados com fins políticos, os presos preventivos, e, por fim, os presos por crime de rebelião.”

sábado, 8 de agosto de 2009

Imagem desfocada

Diz a Lusa hoje:

“Há três meses que a TGB, única estação de televisão na Guiné-Bissau, emite escassas horas durante a noite, limitando-se a poucas notícias do telejornal e alguma publicidade.

À Agência Lusa, Eusébio Nunes (o director-geral da estação) explicou que a avaria no excitador do emissor (aparelho que propaga o sinal) é só parte de um "conjunto de problemas" que afectam a TGB ao ponto de os trabalhadores da estação admitirem o seu encerramento temporário.

A avaria (no excitador) é parte de um conjunto de problemas que já existe há muitos anos. Há equipamentos que foram descontinuados, porque estão em funcionamento há vinte anos sem manutenção e as fábricas onde foram produzidos já não existem, contou o director-geral da TGB. Eusébio Nunes deu o exemplo do excitador do emissor agora avariado mas que não pode ser substituído porque a fábrica onde foi fabricado já não existe.

O problema, referiu ainda o director da TGB, foi mais visível na campanha eleitoral para as eleições presidenciais recentemente realizadas no país, durante a qual a televisão praticamente não emitiu.

O excitador avariado foi enviado para Portugal na esperança de ser reparado pela RTP, mas chegou-se a conclusão que era melhor comprar um emissor novo, só que os custos apresentados ao Governo, 40 mil euros, afinal não correspondem ao preço real do mercado. "O Governo arranjou esse valor, contactou-se a fábrica, só que esta já tinha sido encerrada há cinco anos. O Governo contactou um novo fornecedor que lhe indicou que um emissor novo ronda 150 mil euros", explicou Eusébio Nunes.

O Governo está agora em contacto com uma empresa espanhola e Eusébio Nunes espera que dentro de uma semana a "situação fique resolvida". Até lá a televisão vai funcionando com uma câmara, uma unidade de montagem e uma máquina na "régie".

Em todas as áreas há problemas: na central técnica, na régie de áudio e de vídeo, só temos uma unidade de edição com uma ilha de montagem... Torna-se difícil fazer televisão, afirmou o director da TGB. O telejornal é feito com uma máquina. Se não alinharmos as notícias numa única cassete, o apresentador tem que ler lento para que o técnico possa trocar de cassetes, contou.

Os estúdios da televisão não puderam ser visitados pela Lusa, "porque não há electricidade e a sala está escura".

O comité dos trabalhadores já colocou a hipótese de a estação ser encerrada até que haja condições de funcionamento. O director-geral da TGB concorda com a ideia, mas julga que o Governo nem quer ouvir falar desse cenário, devido a um imperativo constitucional.

"A constituição diz que o país deve ter uma televisão, uma rádio, uma agência de notícias e um jornal do Estado", declarou o director-geral da TGB, que tem esperança nos contactos que as autoridades de Bissau têm feito junto do Governo de Angola para resolver o problema."

http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/529942

Quantos países no mundo não têm televisão pública?

Quantas capitais no mundo não têm electricidade?