sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Estrelas em Cumura

Com salto cronológico para trás escrevo hoje sobre o Hospital Católico de Cumura. A base do texto não é minha. Aproveitei parte e fiz umas adaptações com bastante liberdade. Obrigado CH pelo envio.

No Hospital Católico de Cumura, nos arredores de Bissau, são recebidos durante três dias do mês cerca de 500 mães com bebés em situação de risco. Estes bebés podem ser órfãos, gémeos, desnutridos ou seropositivos.

A Irmã Valeria e as suas equipas fazem o controlo do peso, medição, vacinas, e verificam o estado geral de saúde. A Irmã aconselha as mães a como tratar os seus bebés, dando conselhos e instruções sobre higiene, alimentação e controlo mensal. As equipas administram vitaminas, dão leite, papas, e outra comida para os bebés e também para as mães. Para as mães seropositivas há também retrovirais. Todo este serviço é gratuito para as famílias. O Hospital recebe apoio através da Rede Ajuda, apoiada pela Cooperação Portuguesa e por outras organizações.

Para quem não sabe a Irmã Valéria é uma enfermeira italiana a viver em Bissau há mais de 20 anos e conhecida pela sua enorme actividade de caridade, nomeadamente neste Hospital.



No ano que terminou a Irmã Valeria partilhou com a CH o sonho de oferecer a todos estes bebés e suas mães um presente de Natal. A ideia seria organizar uma festa durante as sessões de controlo médico que se iriam realizar na última semana de Dezembro e aproveitar o momento para oferecer os presentes. Algumas das fotografias são de uma das festas organizada no dia 26 de Dezembro. Houve um lanche e concerto de música ao vivo. Aproveitei o momento para deixar também o último caixote com roupas de bebé que me enviaram. Foram muito bem aproveitadas e tiveram um grande sucesso. Obrigado.

Depois do pedido feito pela Irmã a CH tratou de organizar a festa e de imaginar um presente para todos. Nasceu então a ideia de uma estrela em tecido. Uma outra organização a Artiss@l (também membro da Rede Ajuda) encarregou-se de fabricar a estrela e também uma bolsa para cada mãe onde estas pudessem guardar o boletim de vacinas e do controlo médico dos bebés.

Já tive oportunidade de algum tempo atrás falar desta ONG. A Artiss@l promove o comércio justo de tecidos produzidos artesanalmente por tecelões tradicionais da Guiné-Bissau.



O financiamento para concretizar este projecto foi conseguido através de contribuições vindas um pouco de todo o mundo bem como através da angariação de fundos provenientes de uma festa organizada para o efeito em Bissau com a ajuda de vários amigos. Também podem ver o convite publicado um pouco antes do Natal. Nesta altura não tenho a certeza se o financiamento foi alcançado na totalidade mas se alguém estiver interessado em ajudar podem sempre perguntar. Tenho os contactos necessários para a ajuda chegar ao local certo. De qualquer maneira todo o valor excedente será entregue ao Hospital para suportar os serviços que ali são prestados aos bebés em risco. O relatório sobre esta projecto pode ser enviado por email.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Naufrágio

O tema do dia foi o naufrágio onde deverão ter morrido mais de 50 pessoas. Há que imaginar uma canoa sem qualquer respeito pelas condições de segurança no mar e com excesso de passageiros e carga. Podemos pensar também em cabras, porcos e galinhas a partilhar o mesmo espaço, bem como tachos, panelas, sacos de arroz ou farinha e muitas outras coisas.

Não é de admirar o que aconteceu no Domingo mas sim o não acontecer muito mais vezes. Não há o mínimo controlo sobre o número de passageiros ou sobre o peso a bordo. Para completar o quadro a maior parte das pessoas não sabe nadar.

As notícias de rádio e televisão deram bastante destaque ao assunto durante todo o dia. Obviamente os entendidos vieram logo dizer quais as medidas necessárias para que uma desgraça como esta não voltasse a acontecer… eu ainda estou a pensar quem irá controlar se o número de coletes salva-vidas é suficiente (ou se existe algum), quantos barcos têm um rádio a bordo ou se existe um motor auxiliar.


A Lusa publicou a seguinte notícia:”O primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Carlos Gomes Júnior, admitiu nesta segunda-feira a possibilidade de mais de 50 pessoas terem morrido domingo no naufrágio de uma canoa em Biombo, norte do país. "As informações ainda são escassas, mas parece que morreram cerca de 50 pessoas", afirmou o chefe do Governo em Biombo, para onde se deslocou de forma urgente após ter tido conhecimento do naufrágio. "É uma tragédia nacional. Tudo aconteceu domingo, por volta das 10h, mas devido a dificuldades de comunicação só hoje (2ª feira) é que se soube o que se passou", disse Gomes Júnior.

O primeiro-ministro guineense disse ainda que a embarcação que naufragou era uma "canoa de 16 metros com capacidade para 40 pessoas e que tinha a bordo cerca de 60". A embarcação fazia a ligação entre Biombo e a ilha de Pexixe, perto de Canchungo.

O ministro guineense das Infra-Estruturas, Transportes e Comunicações, José Almeida, disse que o naufrágio ocorreu devido ao mau tempo e que estão ocorrendo operações de busca e salvamento. "Neste momento há cinco barcos ao largo de Biombo a efectuar operações de busca, mas o governo lançou um pedido de ajuda a todos os barcos de pesca que se encontrem ao largo de Bissau e Biombo para ajudarem nas operações".

José Almeida adiantou que entre os passageiros se encontrava uma delegação de líderes do Conselho Nacional Islâmico da Guiné-Bissau, que regressavam de uma acção de islamização em Pexixe, no norte do país.

http://www.agencialusa.com.br/index.php?iden=21663

http://www.rr.pt/InformacaoDetalhe.aspx?AreaId=11&ContentId=273120

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Milícia presidencial

Sem possibilidade de fazer grandes comentários sobre os temas que têm agitado Bissau nos últimos dias deixo dois artigos publicados recentemente e que podem ajudar a perceber melhor onde está o Wally.

As contradições, falsas verdades e versões mal contadas são o prato do dia. Participar em reuniões e encontros com todos os intervenientes da História e assistir na primeira fila ao desenrolar destes acontecimentos tem algo de assustador e contagiante.

O texto da Lusa diz: “O Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA) da Guiné-Bissau, General Tagmé Na Waié, acusou elementos de uma milícia da segurança presidencial de o tentarem assassinar Domingo a noite quando circulava nas imediações da Presidência da República.

Em comunicado, (...) o CEMGFA guineense refere que no dia 04 de Janeiro, por volta da meia-noite, foi "alvo de disparos a rajada por parte dos ditos Milícias Anguentas, mobilizados e armados pelo Ministro da Administração Interna, engenheiro Cipriano Cassamá". O comunicado lembra que os "Anguentas" (milícias que apoiaram o Presidente João Bernardo 'Nino' Vieira na guerra civil de 1998/99 contra a Junta Militar) foram recrutados e armados "à margem dos procedimentos legais", pelo que "não são militares e nem paramilitares e consequentemente não são consignados a qualquer estrutura do Estado". Por isso, Tagmé Na Waié afirmou ter dado ordens para que os "Anguentas", cerca de 400 homens afectos ao Batalhão da Presidência da República e num aquartelamento próprio fora do controlo dos Estado-Maior das Forças Armadas, fossem desarmados e devolvidos à sua respectiva comunidade.

Fonte do Estado-Maior disse à Lusa que o desarmamento dos "Anguentas" (expressão em crioulo para "aguenta") ocorreu segunda-feira à noite, sem que tenha havido qualquer resistência. No mesmo comunicado, o CEMGFA responsabilizou o ministro da Administração Interna (do governo cessante), Cipriano Cassamá, pelas consequências que poderão advir da nomeação dos elementos da milícia para a guarda presidencial.

Contactado pela Lusa, o assessor de imprensa do Presidente guineense afirmou que o chefe de Estado não pretende reagir sobre este caso por ser um "assunto que deve ser tratado com o Ministério da Administração Interna".

O Expresso complementa e escreve: “Entretanto, um dos elementos acusados de envolvimento na alegada tentativa de assassínio, pronunciou-se sobre o caso, numa conferência de imprensa realizada hoje na sede da polícia, em Bissau, cuja organização permanece incógnita. Segundo o alferes Albino Bogró, do Batalhão da Presidência da República, o incidente resultou de "um disparo acidental da arma de um soldado que estava no posto de vigia", no momento em que o CEMGFA estava a passar na rua da Presidência da República. "Tudo não passou de um acidente. A arma de um soldado da guarda presidencial disparou acidentalmente quando estava a passar o Chefe do Estado-Maior. Foi só isso e mais nada", afirmou. O alferes Albino Bogró acrescentou que os quatro elementos detidos na sequência do "disparo acidental da arma de um soldado" já foram postos em liberdade, encontrando-se nos respectivos postos de serviço. Embora a conferência de imprensa tenha decorrido num posto policial, nenhum responsável da Polícia de Ordem Pública nem o ministro da Administração Interna falaram sobre o alegado crime."

http://www.jornaldigital.com/noticias.php?noticia=17225

http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/490074

http://noticias.sapo.pt/lusa/artigo/db2a9d3076f895cac47a07.html

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Africa Queen

Para começar 2009 da melhor maneira. Foi passagem de ano no mar. Tentámos as ilhas primeiro mas estava tudo praticamente esgotado e optámos pelo Africa Queen. Um cruzeiro à moda guineense que nos faz parecer entrar num filme dos anos 50 ou 60.



O grupo é meio caminho andado para o sucesso e estávamos muito bem. O barco tem capacidade para umas 25 a 30 pessoas mas nós no total éramos menos de metade sem contar com tripulação. São 47 metros de comprimento com 15 cabines. Não são gigantes mas têm tudo o que é necessário ou quase. Podem ver melhor no link que deixo em baixo. Muita madeira antiga para o conjunto. Tínhamos o barco praticamente por nossa conta. Fomos tratados da melhor maneira por todos e estavam sempre disponíveis para tudo o que pedíamos. Comemos gelado numa das sobremesas!



Ao contrário do que seria normal não fizemos o percurso habitual de 7 dias pelas ilhas Bijagós mas apenas metade. Decidimos bem e estivemos 3 dias e meio no mar. Partimos de Bissau e passámos por Bubaque em direcção a Calhambaque. A primeira noite foi em viagem mas tivemos o privilégio de acordar já a olhar para João Vieira. Foi bom regressar. Na manhã do segundo dia demos a volta à ilha do Cavalo. São 3 horas de areia e mar. À tarde pescámos embora com muito pouco sucesso e ao final do dia fomos até à ilha de João Vieira. Já tínhamos combinado aparecer. A casa do Claude estava cheia. Havia família, amigos e muitas crianças para as festas de Natal e Ano Novo. Encontrámos muita gente conhecida. Sabe bem ser assim recebido numa ilha fantástica e meia perdida do mundo. Os maracujás estavam óptimos como sempre. No terceiro navegámos até Galinhas e visitámos duas aldeias Bijagós. Uma mais tradicional do que outra. As influências descaracterizam. Há pouca roupa e muitos pedidos.










No meio dos programas houve sempre tempo para praia, muito sol e descanso. Deu para quase terminar o Kite Runner. Obrigado pelo empréstimo e logo que possa vou devolver.

Um início de ano relativamente agitado em Bissau não me tinha ainda permitido escrever aqui mas tentarei recuperar o tempo perdido. Voltarei atrás no tempo e logo que possível publico a visita à maternidade de Cumura no Natal e provavelmente algum texto sobre os últimos acontecimentos em Bissau.

http://www.africa-queen.com/gb/