domingo, 30 de maio de 2010

Declaração de Março

A declaração de que muitos suspeitavam e se falava foi publicada na passada 5ª feira, dia 27 de Maio, pelo Luanda Digital. Até ao momento as reacções das partes envolvidas não são conhecidas. O Primeiro-ministro continua em Lisboa depois de mais de um mês de ausência do país. Os tratamentos médicos em Cuba, o necessário acompanhamento e controlo médico nesse país e mais tarde em Portugal onde também tiveram lugar encontros com a União Europeia e autoridades portuguesas, as viagens a Paris, novas reuniões em Lisboa, a actual situação de instabilidade no país, têm contribuído para o prolongar da estadia. Por sua vez o Presidente também viajou e não se encontra em Bissau. A participação em Nice na Cimeira França-Africa e posteriores exames médicos em Paris tornam incerta também a sua data de regresso. O Vice-chefe do Estado Maior das Forças Armadas, Gen. Indjai, não comentou. O Chefe de Estado Maior das Forças Armadas, Alm. Zamora Induta, continua preso sem se saber muito bem qual a sua situação jurídica ou o seu estado de saúde. Aguardam-se as consequências mesmo que alguns queiram fingir que nada se passou.

A notícia do Luanda Digital:

Indjai confessa papel activo no narcotráfico

De acordo com um documento ao qual a redacção do Luanda Digital teve acesso, António Indjai terá assinado uma confissão de culpa a 05 de Março de 2010, reconhecendo a sua participação na acção de narcotráfico realizada a 01 de Março de 2010 em Cufar, Sul da Guiné-Bissau.

Segundo fontes da Presidência da República, descontentes com o rumo que a situação política do país está a tomar, a confissão terá sido assinada na presença do Presidente da República Malam Bacai Sanha, do Procurador Geral da República Amine Saad e do CEMGFA Zamora Induta. Nessa reunião, Indjai ter-se-á igualmente comprometido a fazer uma retirada estratégica para Cuba, alegando a necessidade de tratamentos médicos, deixando espaço a que tanto o Presidente Malam como Zamora Induta procedessem à resolução deste caso, no sentido de evitar mais um escândalo internacional de participação dos militares numa operação de narcotráfico.

No entanto, sentindo que o seu afastamento das Forças Armadas estaria em preparação, António Indjai terá antecipado o seu regresso a Bissau para 31 de Março. Durante a noite, mobilizou os apoios militares que lhe permitiram desencadear as acções de 01 de Abril e que culminaram na detenção de Zamora Induta e do Primeiro-Ministro Carlos Gomes Júnior, libertado poucas horas depois, após forte manifestação popular. As palavras de António Indjai a ameaçar «matar o Primeiro-ministro» levaram ao reforço do apoio popular a Carlos Gomes Júnior, que se sentiu em Bissau durante o dia das movimentações.

O facto do Presidente Malam não ter ainda apresentado publicamente a cópia desta confissão de António Indjai está a causar bastante desconforto entre alguns dos conselheiros presidenciais. Fontes da Presidência garantem a existência de profundas fracturas no círculo próximo de Malam Bacai devido a discordâncias na forma como este está a liderar a saída da crise guineense.

TRANSCRIÇÃO DA NOTA DE CONFISSÃO DE ANTÓNIO INJAI:

Declaração

Eu abaixo assinado, António Injai, Major General das Forças Armadas Revolucionárias do Povo, vulgo FARP, exercendo as funções de Vice-Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, ciente da preocupação e determinação das autoridades nacionais no sentido de apurar a veracidade ou não da denúncia relativa à utilização da pista de Cufar por uma aeronave pertencente a narcotraficantes, no passado dia 1 do corrente mês, reconheço e confesso tal facto, por ter autorizado a aterragem da aeronave, acto que, indubitavelmente, põe em causa o bom nome do Estado da Guiné-Bissau, bem como os engajamentos internacionais por ele assumidos.

Por ser verdade o atrás confessado, e por este acto ser atentatório da honra das nossas gloriosas Forças Armadas Revolucionárias do Povo e posto em causa uma das traves mestras do engajamento político de Sua Excelência Senhor Presidente da República e do Governo, de lutar, sem tréguas, contra o narcotráfico, entendo que é meu dever colaborar com as autoridades do país com vista a consolidar a estabilidade e a paz social pelo que decidi voluntariamente colocar-me à disposição das autoridades da Guiné-Bissau para o aprofundamento das investigações sobre o caso em apreço.

Por ser verdade, produzi voluntariamente a presente declaração que vai por mim assinado, na presença de Sua Excelência o Presidente da República.

Bissau, 05 de Março de 2010

Antonio Injai
Major General das Forças Armadas

http://www.luandadigital.com/noticias.php?idnoticia=6769

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