terça-feira, 15 de julho de 2008

Música no hospital

Escrevo ao som de Eddie Vedder com a imagem do autocarro. Há várias semelhanças.

Fui esta semana ao Hospital Simão Mendes. Não vou descrever quais são as condições de trabalho ou aquilo que faz falta no hospital. É preciso lá ir para perceber. A ideia de qualquer maneira não era perceber como pode este ser o melhor hospital da Guiné-Bissau quando praticamente não há lá nada mas sim estar com as crianças doentes que estão na Pediatria e assistir ao concerto do Nino Gallissa.

Ao contrário do que seria de esperar há muitos rostos felizes e que emocionam só de olhar. A impressão deixada por algumas situações fica para segundo plano. O concerto vem na sequência das actividades desenvolvidas por um grupo de jovens e menos jovens que se organizam e preparam algumas actividades para as crianças do hospital. Muitos são espanhóis e procuram todas as semanas entreter as crianças com jogos, artes plásticas, teatro, ou simplesmente com a sua presença e conversa.


As sensações são muitas. Há alegria mas também algum sentimento de impotência por não se fazer mais. É contagiante ver os sorrisos dos bebés e crianças e responder às perguntas das mães. Todos querem fotografias e muitos saltam-nos para o colo. Há muitas ligaduras, alguns gessos, pensos, bronquites, tosses, amputações, desidratação, malária. Não há separação de doentes e muitos estão na rua.

O cantor Nino Galissa é guineense e vive actualmente em Espanha. Toca kora, um instrumento tradicional e que praticamente desapareceu da Guiné-Bissau. Pensa-se que só 3 pessoas o sabem fazer actualmente. Brevemente irá começar um projecto no país desenvolvido por ele que entre outros objectivos servirá para ensinar a tocar este instrumento. Segundo o seu site oficial:

“La kora es el más bello y conocido instrumento de cuerda de todo el oeste africano. Pertenece a la cultura griot y proviene de las cortes reales de centenares de años atrás. Su origen, su sonido, su razón de ser y el contexto en el que fue creada, le confiere un valor único. Los materiales usados tienen también su significado con lo que vemos la importancia de la música: La calabaza que usan para el cuerpo del instrumento, simboliza la Tierra; la madera usada para el cuello y el puente, junto con las tiras que sostienen las cuerdas, representan las plantas; el cuero con el que se tapa la calabaza a modo de tambor, representa los animales; y el hierro usado para el anillo que sujeta las cuerdas representa la magia. Es parecido a una arpa pero es interpretada más bien como una guitarra flamenca. Está hecha con la coraza de media calabaza y cubierta parcialmente con cuero. Tradicionalmente tiene 21 cuerdas alineadas en dos filas, una para cada mano; para interpretar una escala, se pulsan alternativamente una cuerda de cada lado puesto que las notas consecutivas pertenecen a filas distintas. Tiene dos postes uno a cada lado sobre los que se fijan las manos. Para las cuerdas se usa hilo de pescar que le da un tono brillante. Las 21 cuerdas están atadas a un aro de hierro que rodea el mástil inferior. Los distintos tonos musicales se consiguen subiendo y bajando los aros de cuero que rodean al mástil y a los que están sujetas las cuerdas, dando distintas tensiones a cada cuerda.”

Deixo o link com o site oficial: http://www.griotsound.com/default.asp

2 comentários:

Hélder Valério disse...

Caro Miguel, obviamente não me conhece, mas cheguei até ao seu blogue através de um camarada que, tal como eu, esteve na Guiné em tempos de guerra e dela, depois de muitos anos reprimindo lembranças, revive agora com estranha intensidade e interesse tudo quanto lhe diz respeito. Deste modo é sem dúvida muito interessante o que se pode encontrar no seu blogue, pelas fotos, pelas reportagens actuais, pelos "cheiros" que são transmitidos, conseguindo falar dos dramas e dos problemas com um estilo por onde se pode perceber que respira respeito, consideração e amor por aquela gente.
No que diz respeito ao tocador de Kora, o tal Galissa, ouvi "recentemente" (em Março passado) uma actuação de um tal José Braima Galissa aquando da apresentação de um livro sobre a Guiné da autoria de Mário Beja Santos editado pelo Círculo de Leitores, servindo essa curta mas excelente actuação para fazer relembrar esses sons e como eles, sendo diferentes dos que nesses idos de 70 estávamos habituados, ficaram marcados no nosso coração.
Faço votos para que continue a fazer o seu excelente trabalho e vá contando mais coisas.
Ah, é verdade, escusava de fazer inveja ou criar "água na boca" com essas ostras de Quinhamel! É muita maldade....
Hélder Sousa

Miguel disse...

Agradeço o seu comentário e fico contente por de alguma forma ajudar a manter vivas as lembranças sobre a Guiné-Bissau. Como diz, e ainda bem que isso é possível de depreender pelos meus textos, existe muito respeito e consideração. Um grande gosto por aqui estar e sentir isso como um privilégio. Espero continuar a contribuir para fazer reviver esta terra e transmitir os seus cheiros, ainda mais agora sentido sobre mim um pouco mais de responsabilidade pelo alcance que os textos e fotografias possam ter. Obrigado.