Silêncio da espingarda

Estou de volta a Bissau depois de alguns dias pela Europa. Cheguei a semana passada e ainda não tinha escrito devidamente. O regresso implica quase sempre tratar primeiro do acumulado. Ao contrário do que alguns dizem desta vez regressei e durante a minha ausência não tivemos nenhum daqueles acontecimentos tristes da história do país. Pelo menos nenhum que implicasse mortes e afins. De outro tipo já não comento porque também os houve.

A vida continua. A época das chuvas deu sinal oficialmente esta semana. Primeiro no sul e leste do país, este último Sábado em Bissau. Cumprindo a tradição chegou a meio do mês. Não deixa de ser uma festa. No Estádio as crianças tomavam banho na chuva e saltavam nas poças. Já não falta muito para voltarmos a ter por companhia os rios de lama, os finais de tarde com chuva torrencial e as noites de trovoada.

A única ligação aérea de Bissau com a Europa é feita pela TAP. Como anunciado os três voos passaram a dois. Ficamos mais isolados. Para ajudar à festa a Air Senegal terminou com os voos “regulares” e o aeroporto passou a funcionar apenas três vezes por semana.

Os militares parecem andar mais calmos. Pelo menos mais discretos. Os rumores não deixam de circular. Há sempre histórias do “grupo de indivíduos vestidos de militares” mas são necessárias provas. Não temos cá um i.

As eleições presidenciais também já começam a alterar a vida em Bissau. Hoje começou a pré-campanha. Das vinte candidaturas oficiais temos agora doze candidatos a Presidente da Republica. A semana passada ficámos a saber que oito deles haviam sido excluídos pelo Supremo. A lei da nacionalidade, difícil de explicar e compreender, parece ter sido aplicada. Um dos impedidos de concorrer é o Presidente do Tribunal de Contas, Francisco Fadul que se encontra em Lisboa a receber tratamento médico depois de ter sido uma das vítimas das visitas do tal “grupo de indivíduos”. Outros seguramente abandonarão a corrida mais tarde entregando o seu apoio a algum dos candidatos mais forte. Vamos ver como tudo se resolve. As missões de observação eleitoral devem aparecer em breve. Há sempre o lado positivo de voltarmos a encontrar alguns amigos e gente conhecida. Era bom que viessem do outro lado do mar.

O Recenseamento dos Antigos Combatentes está perto do fim. Os primeiros números já foram divulgados. Andamos perto dos 5000 homens e mulheres. Parece que eram o total de um país que queria a independência. O outro milhão não participou? Até dia 6 de Junho há prazo para reclamações e para os que não se conseguiram registar. Muita afluência em alguns lugares. Curiosa a forma de se decidir quem merece o estatuto, com testemunhas e muitas perguntas.

As Comissões de Inquérito criadas para investigar as mortes do ex-Presidente da República, Nino Vieira e do anterior Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas, General Tagmé, concluíram os seus trabalhos. Um longo Março e Abril de inquirições… Até hoje nenhuma comissão chegou a conclusões dignas desse nome. Será desta? Para além dos cinco militares já detidos no âmbito das investigações e que ao fim de mais de um mês parece terem confessado… Os jornais falam do envolvimento de um membro do Governo e talvez seja o tema quente dos próximos dias. O FBI ainda não apresentou os resultados das perícias.

Começou o torneio de futebol no âmbito da Semana Desportiva Nacional para a Paz e Estabilidade na Guiné-Bissau. A União Europeia participa e ganhámos ao Ministério de Defesa (4-2). Amanhã jogo contra a Assembleia Nacional.

No Domingo de manhã a piscina estava óptima e o campo de squash já foi arranjado. Agora recuperar o tempo perdido. Há alguns a partir de vez, visitas a chegar e o próximo fim de semana será nas ilhas…