A época de futebol na Guiné-Bissau está quase a começar mas a realidade por aqui é um pouco diferente. Não se discutem orçamentos milionários, contratações de grandes jogadores ou se as acções da SAD estão bem ou não. O artigo que transcrevo (após várias correcções ortográficas) do jornal Donos da Bola do dia 23 de Setembro, ilustra bem como a bola pode ser redonda de tantas maneiras.
A Federação de Futebol da Guiné-Bissau (FFGB) entregou no passado fim de semana (19 Setembro) a todas as equipas que militam na Primeira Liga do Nacional de Futebol um lote de materiais desportivos para iniciar a próxima época desportiva (2009/2010). Aquele organismo máximo do futebol, presidido por José Medina Lobato cedeu a cada formação nacional da primeira liga dezoito bolas, trinta e dois pares de botas, dez pares de luvas de guarda-redes, trinta e duas caneleiras, dez postes de treinos, setenta e dois mecos (pinos) normais e mais um meco de trinta e seis cm e ainda setenta e dois coletes.
(…)
O Director da FFGB, Simão Lucas da Rocha, segundo o jornal: “exortou aos dirigentes dos clubes nacionais beneficiários deste donativo para o usarem de uma forma racional ao serviço dos seus clubes para que os jogadores possam, aproveitar ao máximo os aspectos técnicos e tácticos necessários para o desenvolvimento de um bom futebol no nosso país”.
O jornal Donos da Bola ao contrário do que possam pensar não é um jornal desportivo, mas antes um jornal generalista. O título resulta de uma escolha feita pelos alunos que o produzem da Universidade Moderna do país.
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
Envelope pré-pago
Em véspera de dia nacional fui cumprir o meu dever. A cruz foi feita no quadrado certo. A possibilidade dos que votam fora do círculo nacional tratar deste assunto ao longo da semana é uma grande vantagem. Até porque desta vez, ao contrário das Europeias não votamos nas urnas.
Dei as voltas necessárias, fui à Embaixada, fui aos correios, abri o envelope, passei por casa, fiz as necessárias fotocópias, preenchi o que devia, fechei tudo de novo pela ordem certa e voltei aos correios… pois e paguei 2200 FCFA para votar. Será isto normal? Não haverá aqui nada errado? Na verdade são apenas 3 Euros e meio mas faz algum sentido ter de pagar para votar? Aquela ideia do voto ser para todos, livre acesso, facilidades, etc. Devem ter-se esquecido. Ninguém lhes terá falado em envelopes pré-pagos?
Posso sempre tentar falar com a Comissão Nacional de Eleições ou escrever um email para a página do Sr. Presidente. Mas já sei de muitos que não vão votar porque dá trabalho e ainda têm de pagar…
Dei as voltas necessárias, fui à Embaixada, fui aos correios, abri o envelope, passei por casa, fiz as necessárias fotocópias, preenchi o que devia, fechei tudo de novo pela ordem certa e voltei aos correios… pois e paguei 2200 FCFA para votar. Será isto normal? Não haverá aqui nada errado? Na verdade são apenas 3 Euros e meio mas faz algum sentido ter de pagar para votar? Aquela ideia do voto ser para todos, livre acesso, facilidades, etc. Devem ter-se esquecido. Ninguém lhes terá falado em envelopes pré-pagos?
Posso sempre tentar falar com a Comissão Nacional de Eleições ou escrever um email para a página do Sr. Presidente. Mas já sei de muitos que não vão votar porque dá trabalho e ainda têm de pagar…
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Ilhas do mar raso e outro continente
O nível de contraste não podia ser maior e chega a fazer confusão a diferença de privilégios. São mundos diferentes explorados em dias de descanso. Em boa companhia se vai alimentando o espírito. Deixo um pouco das férias em dia de voltar a falar com a SB (quantos anos?) e de festa de Korité.
Primeiro, uma cidade com mais de 8 milhões de habitantes, e que cresce para cerca de 18,9 milhões quando as base é a grande área metropolitana. Desde a sua fundação, em 1625, tem sido um dos principais destinos de imigrantes vindos de todas as partes do mundo. O que faz desta cidade uma das mais cosmopolitas e diversificadas culturalmente.
A região foi habitada originariamente pelo povo Lenape. A história ensina que o primeiro europeu a explorar a região foi o italiano Giovanni de Verrazano. Este terá desembarcado na Ilha de Staten, em 1524, enquanto navegava na costa do continente. Outros exploradores passaram mais tarde pela região, e em 1609 os holandeses apoderaram-se do território. Tendo-lhe dado o nome de Novos Países Baixos e mais tarde de Nova Laranja. Ao londo deste período, Holandeses e Ingleses defrontaram-se várias vezes pela posse da cidade, que passou para as mãos dos últimos em 1674. Um século e alguns anos mais tarde a cidade era capital temporária e local da eleição do primeiro Presidente do país.
Segundo, umas horas de viagem mais tarde…
A Geografia teve um papel crucial na história deste país. Em 1492, Cristóvão Colombo chegou ao Novo Mundo pela ilha de São Salvador, a leste deste conjunto de ilhas e ilhéus. Após observar o mar raso em redor das ilhas, consta que terá dito "baja mar" e assim ficou baptizado o arquipélago, também conhecido pelas Ilhas do Mar Raso. No início, antes da chegada do explorador, era habitado pelos índios arauaques e mais tarde, no Séc. XVI, foi ocupada pelos Ingleses. Serviu de refúgio a piratas e tinha como maior exploração o algodão, que entra em declínio com o fim da escravidão. Daí para cá o turismo cresce e passa a ser a riqueza do país. Em 1973 torna-se independente.
Se bem que a sofrer uma influência enorme do continente dominador. Às vezes parece paraíso de filme. As águas são azul-turquesa e as areias brancas. Os tubarões e tartarugas passeiam-se livremente no meio dos barcos afundados...
Desaparecida? Um sinal de vida?
Primeiro, uma cidade com mais de 8 milhões de habitantes, e que cresce para cerca de 18,9 milhões quando as base é a grande área metropolitana. Desde a sua fundação, em 1625, tem sido um dos principais destinos de imigrantes vindos de todas as partes do mundo. O que faz desta cidade uma das mais cosmopolitas e diversificadas culturalmente.
A região foi habitada originariamente pelo povo Lenape. A história ensina que o primeiro europeu a explorar a região foi o italiano Giovanni de Verrazano. Este terá desembarcado na Ilha de Staten, em 1524, enquanto navegava na costa do continente. Outros exploradores passaram mais tarde pela região, e em 1609 os holandeses apoderaram-se do território. Tendo-lhe dado o nome de Novos Países Baixos e mais tarde de Nova Laranja. Ao londo deste período, Holandeses e Ingleses defrontaram-se várias vezes pela posse da cidade, que passou para as mãos dos últimos em 1674. Um século e alguns anos mais tarde a cidade era capital temporária e local da eleição do primeiro Presidente do país.
Hoje existe muita poluição no ar e na água. O trânsito podia ser bem melhor e o sistema de transporte público necessita de uma rápida remodelação. Será que ninguém reparou que não se consegue respirar no metro? Qual a diferença entre os retalhos do asfalto de Lisboa e o deles? O pior talvez seja andar vários dias à procura por todo o lado de um Haggen Dazs ou Ben & Jerrie’s e nada. Há prédios gigantes, lojas e restaurantes para todos os gostos e um movimento constante da cabeça para cima e para baixo entre uns e outros. Fica-se com dores de pescoço de tanto olhar para arranha-céus em ruas estreitas. Mas também tem coisas boas… é preciso é procurar ou viver por lá.
Segundo, umas horas de viagem mais tarde…
A Geografia teve um papel crucial na história deste país. Em 1492, Cristóvão Colombo chegou ao Novo Mundo pela ilha de São Salvador, a leste deste conjunto de ilhas e ilhéus. Após observar o mar raso em redor das ilhas, consta que terá dito "baja mar" e assim ficou baptizado o arquipélago, também conhecido pelas Ilhas do Mar Raso. No início, antes da chegada do explorador, era habitado pelos índios arauaques e mais tarde, no Séc. XVI, foi ocupada pelos Ingleses. Serviu de refúgio a piratas e tinha como maior exploração o algodão, que entra em declínio com o fim da escravidão. Daí para cá o turismo cresce e passa a ser a riqueza do país. Em 1973 torna-se independente.
Se bem que a sofrer uma influência enorme do continente dominador. Às vezes parece paraíso de filme. As águas são azul-turquesa e as areias brancas. Os tubarões e tartarugas passeiam-se livremente no meio dos barcos afundados...
Desaparecida? Um sinal de vida?
domingo, 20 de setembro de 2009
Rio de lama
A semana passada cheguei ao portão da rua e voltei para trás. Subi e mudei de roupa e vesti calções e sandálias de plástico. Voltei a descer e atravessei a rua. Chovia torrencialmente, um rio corria agora onde normalmente está uma estrada, uma corrente de água cor de lama passava com força e levava tudo pelo caminho. Vi passar garrafas, caixotes, plásticos, tábuas de madeira e outros. Estes eram os visíveis pois boiavam… depois há aquela sensação de entrar na corrente e sentir tudo o que nos bate enquanto caminhamos num rio de lama. Agua até aos joelhos e objectos não identificáveis que nos vão tocando. São só uns metros. Atravessar para o outro lado e saltar. Os carros mais baixos alagados… e chegado ao destino foi trocar de roupa e cumprir mais uma missão. Em Bissau a época de chuva não pode ser impedimento para faltar a programas…
Parabéns à aniversariante que andava pelo Douro.
Parabéns à aniversariante que andava pelo Douro.
domingo, 13 de setembro de 2009
Momentos de glória
A travessia de férias terminou e estou de novo em Bissau. Foi um regresso ligeiramente antecipado de modo a assistir à tomada de posse do novo Presidente da Guiné-Bissau (e também por mais algumas razões).
A semana passada foi intensa em Bissau. A cidade preparou-se o melhor possível para receber a visita de muitos ilustres convidados. Procurou-se de várias maneiras remediar as falhas. A chuva intensa do último mês não tem poupado as estradas e nas vésperas do grande dia era possível ver funcionários procurando tapar os milhares de buracos e crateras das ruas da capital com cimento… bem como a terraplenar alguns dos acessos ao local escolhido para a realização da cerimónia. Também se cortava o capim e se tentava varrer um pouco da terra que faz confundir passeio com estrada. Alguns tapumes para disfarçar o indisfarçável. Mas houve um esforço e isso é de assinalar. Uma parte interior do aeroporto foi remodelada e pintada.
Malam Bacai Sanhá, do Partido Africano da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), tomou posse na terça-feira, 8 de Se(p)tembro, como novo Presidente da Guiné-Bissau. O momento solene decorreu no Estádio 24 de Setembro, em Bissau. Nas bancadas cerca 10 mil guineenses aguentaram estoicamente a forte chuva que não queria dar descanso e aplaudiram o seu novo líder, o Primeiro-Ministro, o candidato derrotado Kumba Yalá e os Chefes de Estado participantes.
Estiveram presentes os presidentes de Cabo Verde, Pedro Pires, Senegal, Abdoulaye Wade, Gâmbia, Yaya Jameh, Nigéria, Umaru Yar’Adua, Burkina Faso, Blaise Campaoré e República Árabe Saraui Democrática, Mohamed Abdelaziz, bem como o vice-presidente do Parlamento angolano, João Lourenço, e o ministro português dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado. Outros convidados para a cerimónia foram o primeiro-ministro da República da Guiné (Conacri), Kobine Komara, o vice-primeiro-ministro timorense José Luís Guterres, o ministro moçambicano da Defesa, Filipe Nyusi, o duque de Bragança, D. Duarte e o Secretário-geral da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), o guineense Domingos Simões Pereira. As Nações Unidas fizeram-se representar pelo secretário-geral adjunto para os assuntos políticos, o eritreu Hailé Menkerios.
No centro do relvado foi preparada uma enorme tenda para receber estes e outros convidados. O protocolo de estado num esforço louvável organizou um evento que dificilmente sairia na perfeição. De qualquer forma tudo seria mais fácil se os convidados tivessem respeitado a sua hora de chegada e não viessem acompanhados de delegações com o dobro dos elementos previstos.
O povo guineense que enchia quase por completo as bancadas do Estádio Nacional mostrou mais uma vez a sua enorme vontade de participação. Perante a chuva que não parava de cair não deixou de fazer a festa. Se bem que o programa tenha sido prejudicado pela chuva, poderia ter sido dado mais atenção ao lado cultural e artístico, aproveitando o momento para uma maior divulgação e espectáculo.
A unidade nacional, estabilidade, restauração da credibilidade do estado, a moralização, a transparência da vida pública, a reforma do sector de defesa e segurança, o combate sem tréguas à corrupção, ao narcotráfico e ao crime organizado constituíram os pontos chaves do discurso de investidura, como aliás não podia deixar de ser.
Nas palavras do Presidente empossado: "O dia de hoje constitui o virar de mais uma página da história do nosso povo e do país, marcado por momentos de glória".
Será desta que um presidente eleito democraticamente termina o seu mandato. Cabe aos guineenses (alguns) responder.
E como desta vez não estava com a minha máquina fotográfica, agradeço ao V. Montero (NU) a cedência das imagens.
A semana passada foi intensa em Bissau. A cidade preparou-se o melhor possível para receber a visita de muitos ilustres convidados. Procurou-se de várias maneiras remediar as falhas. A chuva intensa do último mês não tem poupado as estradas e nas vésperas do grande dia era possível ver funcionários procurando tapar os milhares de buracos e crateras das ruas da capital com cimento… bem como a terraplenar alguns dos acessos ao local escolhido para a realização da cerimónia. Também se cortava o capim e se tentava varrer um pouco da terra que faz confundir passeio com estrada. Alguns tapumes para disfarçar o indisfarçável. Mas houve um esforço e isso é de assinalar. Uma parte interior do aeroporto foi remodelada e pintada.
Malam Bacai Sanhá, do Partido Africano da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), tomou posse na terça-feira, 8 de Se(p)tembro, como novo Presidente da Guiné-Bissau. O momento solene decorreu no Estádio 24 de Setembro, em Bissau. Nas bancadas cerca 10 mil guineenses aguentaram estoicamente a forte chuva que não queria dar descanso e aplaudiram o seu novo líder, o Primeiro-Ministro, o candidato derrotado Kumba Yalá e os Chefes de Estado participantes.
Estiveram presentes os presidentes de Cabo Verde, Pedro Pires, Senegal, Abdoulaye Wade, Gâmbia, Yaya Jameh, Nigéria, Umaru Yar’Adua, Burkina Faso, Blaise Campaoré e República Árabe Saraui Democrática, Mohamed Abdelaziz, bem como o vice-presidente do Parlamento angolano, João Lourenço, e o ministro português dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado. Outros convidados para a cerimónia foram o primeiro-ministro da República da Guiné (Conacri), Kobine Komara, o vice-primeiro-ministro timorense José Luís Guterres, o ministro moçambicano da Defesa, Filipe Nyusi, o duque de Bragança, D. Duarte e o Secretário-geral da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), o guineense Domingos Simões Pereira. As Nações Unidas fizeram-se representar pelo secretário-geral adjunto para os assuntos políticos, o eritreu Hailé Menkerios.
No centro do relvado foi preparada uma enorme tenda para receber estes e outros convidados. O protocolo de estado num esforço louvável organizou um evento que dificilmente sairia na perfeição. De qualquer forma tudo seria mais fácil se os convidados tivessem respeitado a sua hora de chegada e não viessem acompanhados de delegações com o dobro dos elementos previstos.
Em termos práticos saí de casa às 9h da manhã e respeitando o programa estabelecido ocupámos o nosso lugar na área reservada às missões diplomáticas. A tenda enquanto vazia primava pela arrumação. Havia espaços reservados para cada um dos grupos: deputados, antigos chefes de estado e primeiros-ministros, corpo diplomático e organizações internacionais e jornalistas.
Acontece que o enorme número de convidados rapidamente deu para perceber que esta organização seria insuficiente. A cerimónia deveria iniciar-se às 11h. Por volta das 13h00 ainda se aguardava a chegada de alguns dos Chefes de Estado convidados. Durante estas longas horas de demora e expectativa disputavam-se primeiras e segundas filas. Embaixadores de pé à espera de melhor colocação, convidados acomodando-se nos palanques, outros procurando avidamente uma garrafa de água após 4 ou 5 horas de espera. A salva de 21 tiros ficou-se pela metade… e bem espaçados. Não deixo no entanto de louvar o enorme esforço do protocolo de estado. Falta agora aprender com a experiência. Por volta das 16h regressei a casa.
O povo guineense que enchia quase por completo as bancadas do Estádio Nacional mostrou mais uma vez a sua enorme vontade de participação. Perante a chuva que não parava de cair não deixou de fazer a festa. Se bem que o programa tenha sido prejudicado pela chuva, poderia ter sido dado mais atenção ao lado cultural e artístico, aproveitando o momento para uma maior divulgação e espectáculo.
A unidade nacional, estabilidade, restauração da credibilidade do estado, a moralização, a transparência da vida pública, a reforma do sector de defesa e segurança, o combate sem tréguas à corrupção, ao narcotráfico e ao crime organizado constituíram os pontos chaves do discurso de investidura, como aliás não podia deixar de ser.
Nas palavras do Presidente empossado: "O dia de hoje constitui o virar de mais uma página da história do nosso povo e do país, marcado por momentos de glória".
Será desta que um presidente eleito democraticamente termina o seu mandato. Cabe aos guineenses (alguns) responder.
E como desta vez não estava com a minha máquina fotográfica, agradeço ao V. Montero (NU) a cedência das imagens.
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