quinta-feira, 8 de maio de 2008

O Canto da Missão

A Guiné-Bissau é um dos países mais pobres do mundo mas consegue enganar. Tem imensa vida e alegria na rua, as pessoas não têm um ar faminto e são bastante disponíveis. Há sempre muitos olhares e sorrisos para trocar.

Em 2005 escrevi: “Tudo é pobre. Não há uma estrada direita ou que não tenha buracos, e há algumas muito poucas que são alcatroadas mas ainda com mais buracos do que as outras de terra. Devem ter sido alcatroadas ainda pelos portugueses. As verdadeiras casas são poucas e estão todas em mau estado. Ainda se vêem construções coloniais mas em péssimo estado e só no centro e na estrada principal. As pessoas vivem em tabancas. Tudo casas de barro e telhado de palha.” Hoje as mudanças são poucas.

Não estou a viver no meio da selva. Já me sinto razoavelmente instalado. Estou num apartamento simpático no centro da cidade, perto de quase tudo. Tenho em permanência água e electricidade, o que aqui é um luxo raro. Arranjar casa em Bissau não é fácil e por enquanto sou o único dos que chegaram com a Missão da UE que já se encontra instalado. Vantagens de trabalhar na Cooperação Portuguesa. Também já tenho internet em casa e funciona quase sempre bem.

A comida é bastante boa e parecida com a nossa. Há restaurantes de cidade e um ou outro podiam ser de Lisboa. Já se conseguem encontrar alguns gelados, chegaram o ano passado. Há muito peixe e imensa fruta, papaias e mangas principalmente. Não há iogurtes.

As primeiras semanas foram bastante intensivas e as próximas avizinham-se iguais. Comecei a trabalhar no próprio dia em que cheguei, 2ª feira, dia 14. Em conjunto com o meu Chefe de Missão fiz visitas de cortesia a todas as principais figuras e instituições do país, Presidente da Republica, 1º Ministro, vários ministros, Presidente da Assembleia Popular, Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, outros chefes militares, Procurador-geral da Republica, Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, etc.

Tivemos direito às habituais entrevistas para as televisões e jornais. Visitei também já algumas bases militares e faz impressão ver as condições desumanas das casernas onde dormem e comem os soldados.

Para quem estiver completamente fora do contexto da minha vinda a Bissau, ajuda saber que a Reforma do Sector de Segurança e Defesa é essencial para a estabilidade e desenvolvimento do país, principalmente agora que o país se tornou uma porta de entrada da droga vinda da América do Sul a caminho da Europa. Neste momento metade das forças armadas da Guiné-Bissau são constituídas por oficiais superiores, de idade avançada e o número dos antigos combatentes pela independência aumenta de ano para ano ao contrário de diminuir, uma vez que o título é hereditário. Não existem praticamente soldados com menos de 21 anos. A força aérea não tem nenhum avião operacional. As polícias não se entendem e regularmente entram em confrontos. Não existe uma verdadeira prisão, apenas algumas celas nas esquadras e os juízes têm medo de julgar pois normalmente o condenado fica na rua.

Envio algumas notícias sobre a situação actual. Se tiverem paciência para ler os textos podem ver que cheguei a Bissau numa altura confusa. Na véspera da minha chegada houve confrontos entre polícias na cidade e alguns elementos da Polícia de Ordem Pública torturaram e assassinaram um polícia da Judiciária. O típico ambiente quente de África.

http://www.agencialusa.com.br/index.php?iden=15374

http://www.noticiaslusofonas.com/view.php?load=arcview&article=20903&catogory=Guiné%20Bissau

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