Pirada trip

Enquanto me delicio com mais uma das mangas da Guiné-Bissau, vou escrevendo sobre o meu fim de semana e mais uma pequena incursão pelo território. Desta vez parti com mais alguns elementos da Missão e fomos fazer reconhecimento de percurso. Um daqueles exercícios típicos de procurar caminhos para fugir em caso de emergência mas que em caso de emergência nunca serão a mesma coisa. Partida de Bissau e chegada a Pirada, uma das fronteiras com o Senegal.

Para não variar acordei às 5h e pouco da manhã e chovia torrencialmente, estilo vinte ou trinta cm de altura, mas aos poucos foi melhorando. Às 8h30 já estávamos em Bafatá a tomar o pequeno-almoço. Mesmo com tudo fechado conseguimos ter direito a um pequeno-almoço caseiro, com ovos, salsichas e bolo acabado de fazer.




A estrada está bastante boa e chega-se rapidamente a Gabu. Por sinal cidade com muitos burros (animais) e também cidade escolhida pelo PAIGC para (finalmente) organizar durante alguns dias o seu congresso. Estavam lá as altas instâncias do partido.

De Gabu a Pirada a estrada já não é tão simpática e ainda se apanham uns 40Km de terra e buracos. Nada que seja intransponível. Bissau tem crateras maiores neste momento. No posto fronteiriço também nos encontrámos (outro dos objectivos) com dois motociclistas que vieram da Alemanha e eram amigos de um dos nossos. Viajaram durante quase um mês e estão por cá uns dias de férias. Vendem as motas e regressam de avião.

Pirada não tem praticamente nada. Uma cancela que faz de fronteira, um posto de polícia, outro militar e a alfândega. Ainda se descobre uma rua principal, um mercado, um posto médico e uma estrutura do que em tempos foi um quartel português. Tem verde, terra encarnada e gente simpática.



Para quem olhar no mapa, cruza-se grande parte da Guiné-Bissau e chega-se ao sul do Senegal. Dá para descobrir um pouco mais do país e perceber que algumas cidades como Bafatá, foram típicas cidades portuguesas, bonitas, com construção colonial, cinema ou piscina.

Agenda cultural

A actividade cultural em Bissau é intensa e mundialmente famosa, fazendo inveja a cidades como Paris, Londres, Buenos Aires ou Lisboa. A afluência do publico é sempre intensa e contagiante. A A que o diga. Hoje, dia 27 de Junho, depois de um dificil processo de selecção irei assistir ao II Sarau do PASEG (Programa de Apoio ao Sistema Educativo da Guiné-Bissau). Um dos grandes projectos da Cooperação Portuguesa na Guiné-Bissau. O evento terá lugar no Centro Cultural Português depois das 18h30.

Será um dos grandes acontecimentos culturais do ano.

Deixo o convite. É provável que esgote.

Chuva de lama

A época das chuvas já começou por estes lados. Perguntaram-me um dia destes se já chovia muito por aqui. A resposta é que já ficámos encharcados e algumas ruas já viraram rios, mas ainda nada de especial e não chove muitas horas seguidas. Na segunda-feira estava bonito de se ver, grande chuvada, com trovoada, relâmpagos e rios de lama. A M pequena ficou à janela a ver.

Infelizmente nem todos puderam desfrutar e dizer o mesmo. O resultado de ontem anunciado pela Polícia Municipal foi: “um morto, mais de 50 casas destruídas, gerador da central eléctrica danificado e inundações na rádio nacional (…)” A descrição continua e segundo a mesma fonte, ”um homem de cerca de 40 anos de idade foi encontrado morto numa valeta no bairro de Belém, presumindo as autoridades que teria sido arrastado para as valetas pela corrente de água das chuvas. Mais de 50 casas ficaram destruídas nos bairros de Santa Lágoa e Cuntum Madina, arredores de Bissau.”

Nas ruas de Bissau eram ainda visíveis na 3ª e 4ª feira os sinais de destruição ou de lixo provocados pela água ou pelo forte vento de dia 23 à noite.

"A administração da central eléctrica de Bissau informou igualmente que vai ter mais problemas a partir de agora no fornecimento da luz e água devido às avarias num dos dois grupos geradores que ainda estavam em funcionamento. Resta saber o que significa, a partir de agora... pelos vistos o fornecimento ainda pode ser pior. "A água entrou nas instalações da central e atingiu os motores, tendo provocado danos profundos num deles", disse uma fonte da EAGB (Electricidade e Águas da Guiné-Bissau). A EAGB passa por dificuldades no fornecimento de energia e água canalizada porque dos nove grupos geradores de que dispõe na central eléctrica de Bissau apenas dois estavam em funcionamento, até às chuvas de segunda-feira.” Segundo os jornais dos cerca de 15 megawatts necessários para alimentar a cidade de Bissau em energia e água canalizada, a central eléctrica apenas produzia nos últimos dias 1,5 megawatts. (…)

http://www.angolapress-angop.ao/noticia.asp?ID=628688

Convite X

A Embaixada de Cuba convidou a Embaixada de Espanha para visitar, no Sábado passado, vários projectos de cooperação em São Domingos e eu fui convidado pela X para ir com ela. A cooperação cubana também tem um papel bastante importante na Guiné-Bissau. Entre algumas outras iniciativas, muitos dos médicos que dão assistência e formação em Bissau e no país em geral, são cubanos.

São Domingos fica na fronteira norte com o Senegal e foi sempre local no passado (e ainda muito recentemente) de confrontos entre militares e as forças rebeldes de Casamança. É uma região pobre (como todas as outras aliás) mas com bastante potencial face à proximidade com o Senegal e com a abertura para breve da ponte sobre o rio Cacheu.

A viagem não é tão complicada comparando com outras zonas do país e a estrada está em relativas boas condições. Em poucas horas chega-se ao destino. A paisagem é tropical, como muitas palmeiras, alguns rios e campos de perder de vista. É ainda preciso atravessar de jangada um dos rios.

Em São Domingos tivemos direito a cerimónia de entrega de diplomas aos finalistas do curso de alfabetização, visita guiada ao hospital, rádio e televisão comunitária, ludoteca, futuro mercado, escola de serralharia e marcenaria e um almoço.

O Embaixador de Cuba estava acompanhado de uma equipa de médicos cubanos que está a trabalhar em Bissau e que foi propositadamente passar o fim de semana a S. Domingos com o objectivo de dar consultas grátis à população. É impressionante ver a quantidade de pessoas que espera por estas consultas e mais impressionante é ver as condições do próprio Hospital. A higiene não teria nota máxima no entanto o pior é constatar que não há quase nada próximo daquilo que consideramos ser normal existir num hospital. No final houve discursos, braços no ar e gritos pelo “camarada Fidel”.





A rádio e televisão funcionam com voluntários. A televisão não tem capacidade para emissões regulares mas em dias combinados, normalmente fim de semana, organizam-se sessões para ver algum dos programas de curta duração ou reportagens preparados pelos próprios voluntários.

Foi bom conhecer mais da Guiné-Bissau.

Incontinente verbal

Em jeito de retribuição e agradecimento faço publicidade ao blogue do meu amigo Bernardo. Não deixem de ler os textos deste Senhor em http://incontinentesverbais.blogspot.com/. Destaco especialmente um de 23 de Junho… e não paguei nada.

Talibés descalços

Mais uma vez surgiram nos jornais notícias sobre o alegado envio de crianças para o Senegal com o objectivo de estudarem o Corão. Este é um tema que tem despertado a atenção de algumas organizações não governamentais mas que até agora tem sido bastante negligenciada internacionalmente. Por outro lado o combate que a Polícia guineense pode fazer a este tipo de crime é muito limitado face aos escassos recursos que possui.

A semana passada mais um grupo de crianças foi interceptado junto à fronteira (Contubel). Segundo a comunicação social as autoridades guineenses impediram mais oito crianças, com idades compreendidas entre os cinco e 14 anos, de saírem do país com destino a Dar-es-Salam, Senegal, para onde iriam alegadamente estudar o Corão. As crianças tinham como destino um campo de algodão senegalês onde iriam trabalhar para aprender os estudos corânicos. Em Novembro do ano passado, foram igualmente impedidos cruzar a fronteira para o Senegal um grupo de mais de 70 crianças e foram detidos seis alegados mestres corânicos.

“O fenómeno dos talibés (crianças que estudam o Corão) em África tem sido associado a uma nova forma de escravatura. O ensino dos estudos corânicos tem sido utilizado por falsos mestres para seduzir centenas de pais a enviar as suas crianças para o Senegal, no caso da Guiné-Bissau, com o objectivo de aprenderem a ler o Corão. Estes mestres obrigam, contudo, as crianças a mendigar nas ruas dinheiro e comida para seu próprio proveito.”

http://www.noticiaslusofonas.com/view.php?load=arcview&article=21217&catogory=Guiné%20Bissau

Marcha fotográfica

Embora não me queiram deixar participar aproveito para fazer publicidade a esta feliz iniciativa apoiada pela Cooperação Portuguesa. Será a primeira marcha fotográfica de Bissau e realiza-se no próximo dia 18 de Junho.

"A marcha é a sequência de um curso sobre a organização de projectos leccionado no âmbito do Programa de Apoio ao Ensino da Guiné-Bissau (PASEG)."Abri um curso para ensinar os alunos a realizar uma actividade quando só temos uma ideia e o resultado final foi a marcha", explicou Vanda Medeiros, professora da cooperação portuguesa. A docente explicou que no âmbito do curso, os alunos aprenderam a fazer orçamentos e a pedir financiamentos, acrescentando que a marcha é patrocinada por várias empresas guineenses e portuguesas. Segundo Vanda Medeiros, a marcha visa desenvolver as capacidades artísticas e criativas dos guineenses de várias faixas etárias e de diferentes classes sociais. "Os alunos não só participam, mas ficaram responsáveis pela organização e sensibilização dos participantes que são cidadãos", acrescentou.

A marcha consistirá na entrega de 50 máquinas fotográficas descartáveis a 50 participantes guineenses, numa acção onde foram inscritos crianças trabalhadoras, engraxadores de sapatos, estudantes, vendedores de mercado e funcionários públicos a desempregados.

O resultado dos trabalhos fotográficos vai ser depois exposto no Centro Cultural Português no âmbito de uma exposição intitulada - Um Olhar sobre Bissau."

http://www.angolapress-angop.ao/noticia.asp?ID=625549

CSI Bissau

Partilho mais um artigo. Desta vez uma notícia encorajadora para o combate ao narcotráfico na Guiné-Bissau. O que para muitos pode parecer ser tão natural aqui tornou-se realidade esta semana. Basta lembrar algumas séries de televisão alusivas ao tema que diariamente inundam as nossas casas e nos fazem esquecer que a realidade é, muitas vezes, diferente daquilo que imaginamos. A falta de recursos financeiros obriga a estabelecer prioridades. A PJ recebeu esta semana material para recolha de vestígios de crime. A Cooperação Portuguesa sai valorizada. Destaco a referência ao GZ. Finalmente o país passou a ter capacidade para fazer investigação científica criminal. Esperemos que não haja câmaras de vídeo instaladas no Bairro.

“11 Junho - A Polícia Judiciária (PJ) guineense recebeu hoje (quarta-feira) sete malas de material para a recolha de vestígios de crime oferecido pela cooperação portuguesa no âmbito das respostas ao Plano Operacional do Combate ao Narcotráfico (POCN) na Guiné-Bissau.

Ao discursar numa cerimónia de recepção das malas com os "kits", a directora-geral da PJ guineense, Lucinda Barbosa Aukarié, afirmou que a partir de agora, aquela polícia tem condições para executar "uma investigação científica" em termos de recolha e análise de indícios criminais.

Em 25 anos de existência da PJ guineense, é a primeira vez que os agentes vão passar a usar "as ferramentas científicas" para o tratamento de indícios criminais para o apuramento de provas, explicou Lucinda Barbosa, salientando o apoio de Portugal para a modernização da polícia que dirige. "Agradeço à cooperação e à Polícia Judiciária portuguesa, mas espero mais apoios não só de Portugal como de outros parceiros", no âmbito do POCN, defendeu a directora-geral da PJ guineense.

Além da disponibilização dos "kits" laboratoriais para a análise de vestígios criminais, Portugal financiou e ministrou a formação de seis inspectores guineenses que recentemente regressaram ao país após cerca de dois meses de formação em Lisboa.

Para a acção de formação aos agentes da PJ e disponibilização das sete malas, Portugal gastou 25 mil euros, disse o adido da cooperação portuguesa na Guiné-Bissau, Guilherme Zeverino, destacando que Lisboa está empenhada em ajudar a Polícia Judiciária guineense, bem como o país, a "ultrapassar as dificuldades" com que se depara.

No âmbito do Plano Operacional do Combate ao Narcotráfico - fenómeno que tem afectado a Guiné-Bissau nos últimos tempos - Portugal tem realizado varias acções, sempre em coordenação com as Nações Unidas, desde Novembro de 2007, destacou a directora-geral da PJ.

Para enaltecer os apoios de Portugal à PJ guineense, Lucinda Barbosa explicou que além dos equipamentos, "o mais importante" são os recursos humanos que a Guiné-Bissau passa a dispor na área de análise científica de vestígios criminais.”

http://www.angolapress-angop.ao/noticia.asp?ID=625144

Torneira a pingar

Após alguns dias de reuniões em Bruxelas, da participação no EU Open Days e de uma muito breve passagem por Lisboa, estou de regresso a Bissau. As viagens explicam também a ausência momentânea de novos escritos mas hoje e depois de um longo telefonema nocturno que pode abrir algumas portas (obrigado A.) volto a comunicar.

Deixo os festejos da última vitória da selecção para mais tarde, até porque ainda não ganhámos nada e, tal como prometido, comento antes o tema da gasolina. Curiosamente ou não as três capitais que referi anteriormente sofrem de um problema em comum: a escassez de combustível. Convém, no entanto, ressaltar que na última delas esta falta é já bastante frequente e muitos já se habituaram a viver sem depender deste recurso, porém talvez agora a falta seja ainda mais acentuada.

Cheguei e vi filas intermináveis de automóveis e carrinhas esperando pela sua vez de abastecer, postos de gasolina sem nada para vender, estradas meio vazias e o trânsito a fluir como nunca visto. As consequências desta situação não ficam por aqui.

Deixo um artigo de dia 9 de Junho para ilustrar:

“Os postos de abastecimento de combustíveis em Bissau, Guiné-Bissau, estão encerrados e não está a ser vendido gasóleo, o que pode levar à paralisação de vários sectores no país caso a situação não seja resolvida nos próximos dias.

Segundo uma fonte do gabinete do primeiro-ministro guineense, Martinho N'Dafa Cabi, a falta de gasóleo deve-se a uma ruptura de stock do carburante, que alimenta mais de 80 por cento do parque automóvel do país, bem como geradores de estabelecimentos comerciais, unidades hoteleiras e várias empresas.

A Electricidade e Águas da Guiné-Bissau, empresa responsável fornecimento de luz eléctrica e água canalizada, não funciona desde sexta-feira devido à falta de gasóleo para alimentar os geradores. Em consequência, não há água na rede pública da capital, nem luz eléctrica.

A Agência Lusa percorreu os vários postos de abastecimento de combustível da capital guineense e estavam todos encerrados, sendo impossível atestar o depósito dos veículos e comprar gasóleo para os geradores.

A capital guineense funciona a gasóleo e a falta daquele combustível pode levar ao encerramento de estabelecimentos comerciais e unidades hoteleiras e impedir o funcionamento de várias empresas. A falta de gasóleo pode ainda afectar o funcionamento das telecomunicações do país.”
(…)

http://www.noticiaslusofonas.com/view.php?load=arcview&article=21172&catogory=Guiné%20Bissau