A Escola Bengala Branca é uma das raras organizações guineenses que se ocupa da educação dos invisuais na Guiné-Bissau e visa ajudar socialmente estas crianças e alguns adultos nas áreas da deficiência visual e auditiva. Como devem imaginar não há muitas instituições do género no país. Os apoios não são muitos e toda a ajuda parece insuficiente. A Cooperação Portuguesa tem participado.
Recebi os caixotes com muita roupa e alguns brinquedos. Obrigado pelo trabalho de recolha e empacotamento em Lisboa. Depois aproveitando a vinda da CH até Bissau, organizámos a distribuição. A vontade é a de querer fazer muito mais. Tudo o que vier é sempre bem-vindo. Há sempre lugar para entregar.
A escola não tem os padrões a que estamos habituados mas em cada aluno e professor se vê uma vontade enorme de aprender e estar ali. São apenas 3 salas de aulas às portas de Bissau construídas em verga e madeira e um pouco perdidas no espaço. As questões de insonorização passam ao lado. Cada uma das salas com duas turmas de alunos. Há mistura de cegos, mudos e algumas poucas crianças sem deficiência. São cerca de 140 alunos distribuídos em dois turnos, manhã e tarde. Querem ler para nós e mostrar o que sabem fazer. É incrível como tão pequenos e com tão poucas condições conseguem ler com os dedos a uma velocidade tão natural. Ficam contentes pela visita e por se lembrarem deles.O orfanato Abelha Obreira procura receber algumas destas crianças que precisamente por serem portadores de alguma deficiência são postas de parte. Há muitas crianças assim. O orfanato fica perto do bairro de Quelélé e foi aí que deixei os caixotes. A alegria das crianças ao verem ou sentirem as roupas, sapatos e bonecas foi enorme.
As situações vividas por algumas das crianças são bastante duras. Os casos de abandono são muitos. Um bebé com pouco mais de um ano foi deixado na lixeira… e recolhido pela Igreja que o entregou ao orfanato. Abandonada por ser cega. Não se sabe a sua idade e ainda não fala. Mas tem uma vontade como todas as crianças do lar de sentir o que é novo e estar por perto. Têm vontade de tocar em tudo. Querem todos conhecer-nos e usam as mãos. É naturalmente arrepiante mas foi uma sensação óptima sentir que ajudámos um pouco e que conseguimos dar um sorriso a muita gente.