segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Bengala Branca

Existe o ambiente fantástico de Bissau e existem as ilhas e paisagens paradisíacas da Guiné-Bissau e existe também um outro lado que não pode ser esquecido. Desta vez fui visitar uma escola e um orfanato. A particularidade é o facto de se ocuparem essencialmente de cegos e mudos.

A Escola Bengala Branca é uma das raras organizações guineenses que se ocupa da educação dos invisuais na Guiné-Bissau e visa ajudar socialmente estas crianças e alguns adultos nas áreas da deficiência visual e auditiva. Como devem imaginar não há muitas instituições do género no país. Os apoios não são muitos e toda a ajuda parece insuficiente. A Cooperação Portuguesa tem participado.



Recebi os caixotes com muita roupa e alguns brinquedos. Obrigado pelo trabalho de recolha e empacotamento em Lisboa. Depois aproveitando a vinda da CH até Bissau, organizámos a distribuição. A vontade é a de querer fazer muito mais. Tudo o que vier é sempre bem-vindo. Há sempre lugar para entregar.

A escola não tem os padrões a que estamos habituados mas em cada aluno e professor se vê uma vontade enorme de aprender e estar ali. São apenas 3 salas de aulas às portas de Bissau construídas em verga e madeira e um pouco perdidas no espaço. As questões de insonorização passam ao lado. Cada uma das salas com duas turmas de alunos. Há mistura de cegos, mudos e algumas poucas crianças sem deficiência. São cerca de 140 alunos distribuídos em dois turnos, manhã e tarde. Querem ler para nós e mostrar o que sabem fazer. É incrível como tão pequenos e com tão poucas condições conseguem ler com os dedos a uma velocidade tão natural. Ficam contentes pela visita e por se lembrarem deles.




O orfanato Abelha Obreira procura receber algumas destas crianças que precisamente por serem portadores de alguma deficiência são postas de parte. Há muitas crianças assim. O orfanato fica perto do bairro de Quelélé e foi aí que deixei os caixotes. A alegria das crianças ao verem ou sentirem as roupas, sapatos e bonecas foi enorme.

As situações vividas por algumas das crianças são bastante duras. Os casos de abandono são muitos. Um bebé com pouco mais de um ano foi deixado na lixeira… e recolhido pela Igreja que o entregou ao orfanato. Abandonada por ser cega. Não se sabe a sua idade e ainda não fala. Mas tem uma vontade como todas as crianças do lar de sentir o que é novo e estar por perto. Têm vontade de tocar em tudo. Querem todos conhecer-nos e usam as mãos.


É naturalmente arrepiante mas foi uma sensação óptima sentir que ajudámos um pouco e que conseguimos dar um sorriso a muita gente.

5 comentários:

Hélder Valério disse...

Caro Miguel, já lhe disse que sou um acompanhante atento do seu blogue, mesmo quando não coloco lá nenhum comentário e sem dúvida que alguns dos últimos textos o teriam merecido.
No entanto não posso deixar de dar os meus parabéns pelo trabalho desenvolvido e que se reflecte de modo bem patente no que acima está referido. É também bem certo que mesmo os nossos pequenos gestos são recebidos e retribuidos de forma tão genuína por essas crianças que isso recompensa todos os esforços feitos. Já era assim no meu tempo!
Só mais uma pequena informação que certamente já será do seu conhecimento: através do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné tomei conhecimento duma notícia proveniente da AD (uma organização não governamental daí) de que na região do Cantanhez teria entrado um casal de elefantes com a sua cria, o que é uma boa notícia para a região e poderá acrescentar mais uma espécie àquelas que observou nos Bijagós.
Hélder Sousa

Unknown disse...

Felizmente a coperação portuguesa existe. Pena que não se consiga, em Portugal, entender a sua Missão e utilidade e por vezes seja comandada por burocratas pouco conhecedores das reais necessaidades como , por exemplo tu com a tua já vasta experiência de África. Por outro lado isto faz-me lembrar Timor-Leste e a movimentação de que nós fomos capazes por aquela Nação. Será que se consegue de novo mobilizar os portugueses para causas cooperativas como este pequeno exemplo que tu mostras? Será que somos portadores desses valores? Um abraço e Obrigado

Trigosa disse...

querido miguel,
apesar de acompanhar há muito as tuas aventuras nesse lado do mundo e de nunca ter escrito antes, com este post não havia como ficar indiferente!

PARABÉNS pelas tuas iniciativas, tenho a certeza que pessoas com o coração do tamanho do teu e com o amor que sentes por esse país/continente, não há assim tantas!

beijinho grande,
*j*

Unknown disse...

Querido Miguel,
Vou acompanhando sempre que posso as novidades de Bissau. Gosto imenso do blogue e do que escreves. Muitas vezes na azáfama do dia-a-dia, em que só pensamos nas nossas vidas, esquecemo-nos que em muitos outros locais há pessoas que passam por situações muito complicadas. Fiquei satisfeita por ter contribuído para os “caixotes” e já guardei mais algumas coisas para o próximo carregamento.
Parabéns pelo vosso trabalho.
Um beijo muito grande
Filipa Marvão

Clara H. disse...

Querido Miguel,
É muito bom ter um amigo como tu.
Estou-te muito grata por termos ido juntos á Bengala Branca e poderes divulgar para o mundo estas "realidades".
Aproveito a oportunidade se me permites para fazer um agradecimento muito especial à Associação de pais e Encarragados de Educação do Agrupamento de escolas de Monchique ( a qual se geminou com a AGrice , a Associação de cegos da Guiné-Bissau a que pertence a escola "Bengala Branca" e o lar de crianças cegos e surdos-mudos "Abelha Obreira" na sua maioria orfãos ou abandonados pelas familias),aos alunos da Escola EB2,3 de Monchique , respectivos alunos e professores do agrupamento e um agradecimento muito especial à professora Sandra Bilo.Também a todos os meus amigos de Monchique(à Anne ,à Lucia da Biblioteca à Isabel do "Ochalá " .......),contribuiram todos para que chega-se à Bengala Branca 100 blocos de papel cavalinho ,( o papel mais importante para esta escola de cegos ) e a festa de Natal que se vai realizar na próxima sexta à tarde.
Muito obrigada por estarmos unidos por este coração global e um carinhoso abracinho a todos.
Clara