domingo, 7 de junho de 2009

Golpe de Estado e a espuma - parte 1

A leveza do ser ou parecer.

Na rua a mesma agitação matinal do costume. Nada indica que escassas horas antes uma alegada tentativa de golpe de Estado tinha sido evitada, e onde dois dos presumíveis implicados tinham sido mortos. Estranho e curioso como a normalidade do dia-a-dia pode ser tão rapidamente devolvida à cidade. Infelizmente deve derivar da sua regularidade e previsibilidade. Aconteceu antes e ninguém pode afirmar que não vá acontecer amanhã ou daqui a uma semana. As Forças Armadas deixaram a promessa de que iriam ser intransigentes com os revoltosos. Claro que também seria importante saber quem temo direito de determinar quem são os bons e os maus. Quem é revoltoso ou não.

Passados três dias e depois de muitos comunicados, reuniões e contra-informação, começam a surgir nos meios de comunicação social as primeiras dúvidas sobre o que terá verdadeiramente sucedido na noite de 5ª para 6ª feira em Bissau e arredores. Hoje, Domingo, 7 de Junho, dia em que enterraram Baciro Dabó, a imprensa relata as incertezas e interrogações sobre a verdadeira relação da morte do ex-ministro e candidato às eleições presidenciais com uma suposta tentativa de golpe de Estado. Há mesmo quem denuncie, de acordo com a imprensa e em conversas de café, a existência de uma enorme “intentona” de contornos muito nebulosos e perigosos.

Com ajuda e citando a imprensa:

"Quando se prepara um golpe de Estado não se dorme na sua cama", disse à Lusa o Embaixador do Senegal em Bissau, Mamadou Dieng. "Nem tinham mandado", acrescentou o General, decano dos diplomatas em Bissau, sobre o assassínio do ex-Ministro da Administração Territorial. O autoproclamado Zidane, 48 anos, deputado pelo PAIGC e candidato independente às presidenciais marcadas para 28 de Junho, foi morto por homens uniformizados na madrugada de sexta-feira.”

“Suposto apoiante da revolta, Baciro Dabó foi executado no quarto da sua casa. A versão oficial dita que ele terá resistido à detenção, acabando por ser, segundo um jornal local, abatido com três tiros no abdómen e um na cabeça; o que não deixa de fazer pairar no ar a ideia de uma execução sumária. Os órgãos de comunicação guineenses referem ainda que os militares aproveitaram a ocasião para roubar vários objectos valiosos na casa do candidato.” O suposto furto não foi ainda explicado ou comentado pelas autoridades.

“Na mesma noite, o ex-ministro da Defesa e deputado do PAIGC, Hélder Proença, refugiado em Dakar desde os assassinatos em Março do Presidente Nino Vieira e do Chefe Estado-Maior das Forças Armadas, General Tagmé Na Waié, regressou ao seu país e foi morto em circunstâncias ainda por esclarecer.” Segundo a polícia secreta, Hélder Proença, seria o líder do Alto Comando das Forças Revolucionárias para a Restauração da Ordem Constitucional e Democrática. A versão oficial diz ainda que este se deslocava de Dakar para Bissau a fim de coordenar o golpe de Estado, quando foi morto dentro do automóvel, juntamente com o motorista e o segurança. Testemunhas relatam que Hélder Proença tentou fugir aos tiros da barreira de militares, sem sucesso. O Governo confirmou a troca de tiros entre as forças leais ao governo e movimento revoltoso e um comunicado assinado pelo Director-adjunto dos Serviços de Informações do Estado, Samba Djaló, garantiu que os dois tinham sido mortos quando em nome do Alto Comando das Forças Republicanas para a Restauração tentavam um golpe de Estado.

Informações colhidas pelas Lusa, e que circulam em alguns blogues locais, mas que não foram confirmadas oficialmente, garantem que o director dos Serviços de Informação, Antero João Correia, se encontra detido por se ter recusado a alinhar com a versão de golpe de Estado e se ter negado a assinar o comunicado divulgado poucas horas depois dos trágicos acontecimentos, onde se podiam ler os nomes dos envolvidos nesta acção.

(cont.)

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